As Imagens Falam

"I must create a system or be enslaved by another man’s."

É esta a citação escolhida pelo cartunista norte-americano Peter Kuper para dar início à sua banda desenhada, intitulada de “The System”. A obra assume uma particularidade: não é composta por diálogo, nem narração. Talvez para realçar o quão evidente é a mensagem, não necessitando de qualquer outro artifício senão a imagem, desde que o leitor não deixe escapar os pormenores acobertados nos grafittis, jornais e ecrãs de publicidade da grande cidade.

Toda a ação gravita em torno da vida citadina de Nova Iorque, apesar de poder ser replicada em qualquer centro urbanístico do mundo ocidental. Kuper transmite, através de desenhos simples, mas cativantes, a podridão que se esconde nas sombras dos arranha-céus, e atenta no que normalmente passa despercebido. A narrativa desenrola-se num clima de época eleitoral e, consequentemente, são usados truques políticos e artimanhas digitais, evidenciado como a ambição exacerbada ataca a democracia.

Num sistema onde o dinheiro é o protagonista, há que arranjar maneiras de sobreviver. Por isso, pode-se afirmar que o cartoon supõe a existência dos “bons” e dos “maus”, que são levados pelo dinheiro de forma antagónica. O cartunista restaura a humanidade das populações mais marginalizadas, como strippers, traficantes, sem-abrigos e até mesmo detetives arrependidos, que se opõem aos polícias vigaristas, aos racistas, aos puritanos e aos "businessmen" sem escrúpulos.

Indiscutivelmente, “The System” constitui um manifesto por justiça na sociedade contemporânea, sendo um grito de verdade. Ter sido publicado em 1997, certamente não invalida a intemporalidade da obra. Garantidamente, continuará a impactar os leitores desta, e da próxima geração, despertando, assim, para a necessidade de estar consciente do que nos rodeia.