Delongar Vagarosamente
- Bruna Lopes

- 18 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Quando eu era pequena, a ânsia de crescer fazia-se sentir em mim de uma forma avassaladora. Desde cedo queria ser eu a escolher a minha roupa para a escola, a decidir a que horas ia para a cama; tomar todas as pequenas decisões que, aos sete anos, julgamos ser escolhas de gente crescida. Nessa altura, o tempo tinha uma forma que nunca mais volta a ter— vasto, lento. Os dias eram longos e as horas compridas pesavam menos.
Mas o tempo avança, alheio a qualquer vontade nossa, e a vida acontece, indiferente a qualquer sucedido. O tempo deixa de esperar por nós e as horas já não se acumulam. E, de repente, permanecemos na tentativa de esticar os minutos e prolongar os momentos.
Crescer não é bem como imaginei que seria e nem todas as marcas do tempo são bonitas. Mas, se há uma assustadora responsabilidade em ser gente grande, existe também uma liberdade que eu não trocaria por nada. E em momentos felizes, penso em todas as possibilidades e em tudo o que posso fazer e tornar real.

Há muita coisa que eu entendo agora e não entendia antes. Espero que haja muita coisa que eu ainda vá compreender. Hoje, sei que a lua não me segue até casa, porque é que os animais hibernam, e desvendei algumas das coisas que a minha mãe me dizia. Talvez até entenda as cartas de amor.
Compreendo especialmente a necessidade de permanecer mais um pouco e demorar mais um bocado quando já é tarde e tenho de voltar para casa. Quando já tenho o casaco na mão e estou a despedir-me pela terceira vez de alguém querido. Melhor do que nunca, compreendo a urgência de querer que o tempo seja vasto e lento.





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