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Interlúdio

  • Foto do escritor: Bruna Lopes
    Bruna Lopes
  • 24 de mar.
  • 1 min de leitura

Há algo em mim que sempre hesitou diante da possibilidade de ser vista. Como se carregasse no peito um espelho partido, incapaz de refletir sem distorcer as margens. As fissuras ecoam a lembrança de tudo o que foi, antes mesmo de eu poder impedir.

E, no entanto, tu ficas. 

Ficas como o silêncio que antecede a primeira luz da manhã, como o calor que resiste nas noites de verão. Ficas como quem conhece o peso da espera e escolhe, ainda assim, permanecer, porque o tempo não te assusta. Tens fé em mim e acreditas que nada se apaga só porque ainda não aprendi a ter tesouros nas mãos e segurá-los sem os deixar escapar por entre os dedos.

Dás-me um lugar onde posso descansar todas as minhas ideias e, quando me encosto a teu lado, há um silêncio que não me assusta, uma pausa onde o medo não tem voz. Dás-me um lugar onde posso pousar a cabeça e, muitas vezes, isso basta.

E é então que me perco. Não no medo, não na fuga, mas em ti. Perco-me daquilo que sempre temi ser e, nesse extravio, encontro uma clareza nova. Como se, ao afastar-me de mim mesma, pudesse finalmente ver. 

Amei, perdi-me e talvez morra amando. Não tenho a certeza se o tempo consegue mudar tudo, mas talvez nem seja preciso mudar nada.


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