O Ritmo do Fogo
- Bruna Lopes

- 16 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
O tempo, ultimamente, parece apressado, mas também hesitante, como se caminhasse num compasso incerto. Os dias curtos chegam e partem sem aviso, fazendo do inverno um intervalo entre aquilo que foi e aquilo que ainda pode ser. As manhãs escuras despertam tímidas, trazendo um frio que não é apenas do ar, mas também do silêncio das casas, cada vez mais quietas. Há, contudo, algo quase solene neste ritmo: o frio que se entranha nas esquinas e a luz dourada que repousa cedo sobre as ruas são como sinais de que até a natureza se cansa e exige uma pausa. Parece que o ar sente o peso do calendário a virar uma página e permanece, tal como nós, em silêncio, a assistir ao que se fecha e ao que, sem pressa, começa a desvendar-se.
O crepitar da lareira interrompe o silêncio com uma cadência morna, segurando o tempo por um instante e esse som lembra-me que o inverno não é sempre frio. Há algo de profundamente eterno no fogo, mesmo quando devora tudo à sua volta. Enquanto observo as chamas, sinto as memórias a declamarem-me tudo o que ainda resta por fazer, por viver e por ser. Mas o fogo, na sua serenidade, sussurra-me algo diferente: que ainda há espaço no tempo — aqui, neste agora, impondo-me uma pausa, onde o calor me abraça.
Recordo ainda outros invernos, outros momentos, outras noites quando o lume parecia arder eternamente, e o riso era tão certo quanto o gelo na rua. Havia uma promessa doce e silenciosa de que os dias curtos e as noites longas traziam algo mais do que escuridão, um vagar ritual em cada momento.
Agora, enquanto observo o lume, a sua dança irregular faz-me sentir que o tempo pode ser estendido, alargado até os instantes se tornarem suficientes. E, por mais efémero que seja, o fogo continua a arder, a dançar, e enquanto o ouço, enquanto estou aqui, sei que há promessas que ainda posso cumprir.






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