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Sol de Outono

  • Foto do escritor: Bruna Lopes
    Bruna Lopes
  • 18 de nov. de 2024
  • 2 min de leitura

Gosto de bancos de jardim, de jardins escondidos no meio da cidade e dos miradouros que desvendam um horizonte sem pressa. Gosto de me sentar a ler, a ver a vida acontecer e de sentir o tempo a estender-se só por eu estar aqui, parada.

Sendo assim, torna-se difícil ignorar a relva que cede sob as minhas sapatilhas gastas, as gaivotas acomodadas entre os pombos e o gato preto, imóvel, que os deixa passar como se fossem invisíveis, já indiferente à presença das aves. As árvores à minha volta mudam de cor em silêncio; folhas vermelhas e castanhas caem, tentando cobrir a terra com algo mais que o tempo. As crianças brincam às escondidas atrás dos arbustos, enquanto outras pessoas, noutros bancos, folheiam os seus livros com as cabeças inclinadas, o mundo suspenso nos gestos que quase não se notam.

Um casal de velhinhos, de braço dado, que antes observava a paisagem, agora observa um casal jovem. Pergunto-me se estarão a pensar em algo, ou se apenas se veem, em segredo, quase como num reflexo: sem rugas, sem o peso de tantas histórias acumuladas nas dobras da pele.

E, então, reparo nas restantes pessoas e numa certa confusão que parece pairar sobre todas. Algumas vestem tecidos leves, de cores claras, como se o verão ainda existisse, enquanto outras caminham com casacos compridos e escuros. Uns parecem confortáveis e serenos, outros nem tanto, como se alguns já tivessem percebido algo, como se tivessem encontrado a solução para esta inquietação há muito tempo.

Os dois senhores a tomar café conversam à mesa com a serenidade de quem partilha memórias há anos. Um grupo de rapazes descansa numa sesta, espalhados sobre a relva.

Volto a atenção à paisagem diante de mim. Observo os prédios longínquos, as pontes e as ruas. Ao fundo, o rio corre apesar de eu não conseguir notar o seu movimento e as nuvens arrastam-se, guiadas por uma brisa suave que abre caminho para o sol de outono. O tempo vai acontecendo como o correr do rio, independente das vontades alheias. E eu penso em como já é novembro outra vez, e sinto o desejo de que todo o tempo que desperdicei nos últimos meses não tivesse sido inútil, e em vez disso, tivesse sido passado num banco de jardim.

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